6 de abril de 2013

Príncipios da Toxicologia



Pai da Toxicologia. 1493-1541 Paracelsus

 “Todas as substâncias são venenos; não há nenhuma que não seja um veneno. A dose correta diferencia o veneno do remédio” 

Conceito de Toxicologia

 Introdução – a Toxicologia em busca de sua cientificidade 

(PAOLIELLO; DE CAPITANI, 2000) 
 Fase pré-paradigmática 
Ainda que a Toxicologia seja considerada uma ciência instituída recentemente, quando comparada com outras ciências biológicas, sua construção começou antes do princípio da história registrada. Em sua constante busca por alimentos, o homem observou que certos vegetais tinham efeitos nocivos para o organismo. Considerando que o arco e a flecha estão entre as revoluções tecnológicas mais importantes nessas populações primitivas, foi constatado o uso de extratos de plantas como toxinas para a caça e a pesca. O fato de a relação causa efeito ser imediata, tornou mais fácil a aquisição do conhecimento. 
Entretanto, o foco de atenção da Toxicologia primitiva, e o “saber” toxicológico, rapidamente se desviou para a destruição da vida humana. Conforme a civilização progredia, a arte de envenenamento proposital também avançava. No início, observou-se o desenvolvimento de habilidades de muitos povos na preparação de misturas especiais de venenos para flecha, cujas fórmulas eram bem guardadas e passadas para os sucessores de cada tribo. Gradualmente, muitas toxinas animais, vegetais e minerais foram catalogadas por médicos gregos (a partir de 400 a.C.). Ainda que superficialmente, o uso de eméticos foi reconhecido nos envenenamentos. Poemas com referências a venenos e antídotos foram escritos. Com o desenvolvimento do conhecimento e da utilização dos venenos, as execuções políticas ocorriam com freqüência na Grécia Antiga. Suicídios onde o conhecimento toxicológico era evidente, também ocorriam. A Roma Antiga também foi palco destes acontecimentos. 
Em Roma, na Idade Média, a arte de envenenar progrediu de tal forma que alcançou o estatuto de uma profissão. Era grande o número de pessoas que, mediante o pagamento de uma quantia, poderia encomendar o envenenamento de outra. O envenenamento como arte e profissão também chegou à França. 
O que se observou através da história da Toxicologia até então, era de caráter fenomenológico. Todo o conhecimento era obtido a partir de dados experimentais e o “saber” era puramente empírico. Não havia uma sistematização do conhecimento, nem uma compreensão teórica sobre o tema, e faltava uma “lei geral” sobre o assunto. Portanto, essa foi uma etapa da história da Toxicologia pré-paradigmática, constituída por saberes. De acordo com Foucault, o saber pode ser definido como um conjunto de elementos formados por uma prática discursiva, que pode ou não adquirir um status científico.
Provavelmente, foi através de Paracelsus que surgiu o primeiro esboço da construção de um campo específico de conhecimento, que posteriormente se denominaria Toxicologia. Paracelsus foi um médico suíço que viveu entre 1493 e 1541 e propôs um dos princípios básicos da Toxicologia, quando observou que a toxicidade de qualquer substância estava relacionada com a dose. Estabeleceu também alguns princípios básicos da experimentação, além de definir a necessidade de isolar o princípio ativo em todo caso de intoxicação. Também distinguiu os efeitos agudos e crônicos da exposição a metais. O que Paracelsus estabeleceu foram algumas referências teóricas da Toxicologia como disciplina científica, onde houve posteriormente uma convergência universal. Deste modo, constituiu um novo universo conceitual, rompendo com o senso comum, deixando de lado as “poções mágicas” populares da época. Tratava-se de uma ruptura dentro do conhecimento empírico. Entretanto, tudo isso ainda constituía um paradigma rudimentar porque, apesar de haver um objeto e uma lei geral que regia o seu comportamento, faltavam teorias de domínios conexos, como, por exemplo, a química, que pudessem estabelecer uma relação com esse paradigma. Khun introduziu o conceito de paradigma associando-o ao surgimento de uma disciplina científica. Também relacionou o conceito de paradigma com a formação de uma comunidade científica, na medida em que o paradigma está associado à responsabilidade do aparecimento dessa comunidade. Tudo isso ainda não havia ocorrido no momento histórico de Paracelsus, que atuava isoladamente e tinha contra si grande parte da “comunidade científica” da época. 
 O paradigma se faz realidade 
Foi a partir do início do século XIX que se instituiu a fase paradigmática propriamente dita da Toxicologia, através dos princípios estabelecidos por Orfila (1787-1853), um médico espanhol que ensinava na Universidade de Paris. Nesse período da civilização, os aspectos legais da Toxicologia eram fundamentais para poderem elucidar os casos de envenenamento que ocorriam. Os princípios de Orfila continham toda a sistemática para a identificação de agentes químicos em materiais de autópsia, através de provas de identificação, como prova legal de envenenamento. Para isso, foram assimilados conhecimentos e técnicas dos campos da química e da biologia. Esses princípios continham todas as partes que constituíam um paradigma: um objeto definido, princípios teóricos para especificar as leis gerais que regem o  comportamento do objeto, a relação com as teorias de campos conexos (especialmente com a química analítica, a bioquímica e a fisiologia) e exemplos concretos da aplicação da teoria.
Outro indicador do período paradigmático é quando uma disciplina está estabelecida institucionalmente. Em 7 de janeiro de 1834, na Escola de Farmácia de Paris, foi fundada a primeira cátedra de Toxicologia, sendo o primeiro ensino superior desta ciência no mundo.
Quando o modelo de Orfila foi aceito e a disciplina instituída, a comunidade científica já existia. Se considerarmos que a aquisição de um paradigma é sinal de maturidade no desenvolvimento de qualquer campo científico, e que também é científico o que alcança o consenso de uma comunidade científica, podemos afirmar que foi nesse momento histórico que a Toxicologia adquiriu sua cientificidade.
A ciência não se limita a crescer, mas a transformar-se. E não se pode separar o desenvolvimento da tecnologia do desenvolvimento científico. Foi justamente a produção de novos meios de observação e experimentação que transformou incessantemente as condições do conhecimento na Toxicologia. Nasceu do aspecto forense devido a uma demanda social; entretanto, logo foram aparecendo novos métodos de abordagem. Além do analítico, clínico e experimental, novas áreas de aplicação se desenvolveram: ambiental, ocupacional, social, de alimentos e de medicamentos. Surgiram novos paradigmas envolvendo os primeiros. Se, durante sua trajetória, a Toxicologia percorreu várias etapas (empírica, política, criminal, forense), que estavam de acordo com as necessidades da época, a partir do século XX a Toxicologia adotou um enfoque eminentemente social.
Atualmente, o modelo da Toxicologia engloba uma multiplicidade de enfoques para uma sociedade dinâmica e concreta em sua realidade. Podemos concluir que a Toxicologia constitui um campo científico em processo de reconstrução.

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